sábado, 4 de setembro de 2010

2ª Parte - Entrevista do Carvalho - Edição de 4 de Setembro de 2010 - Andrade

BC – O respeito acaba sendo menor?


A: Sim, acaba sendo menor. Você vê que quanto mais mal educados são esses treinadores, mais valorizados eles são, mais respeitados. Já profissionais como eu, que atendem todo mundo bem são tachados de não serem treinadores ainda, não tem preparo. Agradeço a torcida do Flamengo, por ela estaria de volta ao clube. Mas se eu tiver que ser um cara mal educado, mal humorado e arrogante pra ser um treinador então eu não vou ser treinador, teria que mudar minha personalidade, não saberia fazer isso. Mesmo quando estava por cima, no auge, atendia a todos com educação.

BC – Com os jogadores houve algo parecido?


Andrade: Não, a minha história fala por mim, sempre houve o respeito. O episódio do Bruno foi um fato isolado, eu apitava um treinamento e ele que é cabeça quente, me dirigiu algumas palavras que eu não gostei. Disse que eu estava apitando para o time de colete, eu disse que não tinha porque estar apitando para o time de colete ou pro outro, eram todos Flamengo ali. Então ele disse que não iria participar de uma palhaçada e eu disse que não havia palhaçada ali, se havia algum palhaço ali era ele. Depois disso eu sai, mas ele veio atrás de mim e me dirigiu algumas palavras que um fotógrafo acabou ouvindo. Ele disse “Você não é meu treinador!”, “Nunca trabalhei com você!”. Por ironia do destino, eu acabei além de ser seu treinador, fui treinador campeão brasileiro. Se eu fosse vingativo, poderia retaliá-lo, tirar sua faixa de capitão, mas não sou de guardar mágoa. Logo depois ele se desculpou vi que havia sinceridade naquilo e morreu ali. Depois tivemos um ótimo relacionamento, acho que serviu até pra fortalecer. Em algumas situações, como ele era o capitão, eu pedia pra ele conversar com o grupo que eu precisava concentrar dois dias antes de um jogo importante, ou viajar dois dias antes e ele dizia “Pode deixar, eu converso com o grupo”, estava sempre pronto pra atender meus pedidos . Houve momentos difíceis pra ele, ele falhando em três jogos seguidos, a torcida no pé dele, mas eu o apoiei e ele acabou sendo um dos personagens do brasileiro.


BC -  Você talvez seja um dos raros ótimos jogadores que se tornaram ótimos treinadores, vencedores, é o recordista de títulos brasileiros. Quando você resolver seu treinador, foi fundamental você ter sido jogador antes?


Andrade: Acredito que sim. Eu sei das dificuldades que um jogador está passando dentro de campo, é um ganho muito grande, sem desvalorizar os outros treinadores que não foram jogadores, mas este fato te ajuda a entender as dificuldades que o jogador tem. Você tem como corrigir o posicionamento do jogador em campo, corrigir como o jogador bate na bola, você pode explicar isso pra ele. Eu posso chegar pro jogador e dizer: “Você perdeu aquele gol porque entrou com a perna errada, a bola tava vindo da direita, tinha que entrar com a esquerda”. São alguns detalhes que você pode passar pra ele. Detalhes que de repente você até viveu dentro de campo. No aspecto tático também ajuda e eu sou uma pessoa sempre aberta à conversa, não sou o “dono da verdade”, o jogador pode fazer uma colocação que você pode perceber que ele tem até razão.


BC – Qual jogador com quem você trabalhou que mais lhe ajudou, neste aspecto, que mais fazia observações relevantes?


A: Um cara que é inteligente, e que tem uma visão muito parecida do futebol, da forma de jogar era o Pet. Conversava muito com ele, sempre tinha algo pra acrescentar.

Um comentário:

Anônimo disse...

Saudade do time do Andrade no brasileirão. Eu também queria ele de volta.
Parabéns por trazer um dos meus idolos de volta.

Esdras Santana

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