segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Última Parte - Entrevista do Carvalho - Edição de 18 de Setembro de 2010 - Carlos Alberto Torres



 "Treinador da seleção tinha que morar na Europa!"

 





OC – Na última Copa, o Brasil não contou com dois jogadores excepcionais que se estivessem em pela forma física, ajudariam muito a equipe. O que causa em sua opinião, esse desvio de rota na carreira desses jogadores que já conseguiram muita coisa, mas possivelmente até por isso, relaxam e tem um declínio na carreira?

CAT: O esquema do futebol, no aspecto de grana mesmo, se tornou muito violento.  O jogador tem que estar muito bem preparado. De repente o cara passa de dez mil reais pra um milhão. Pra nós que somos mais velhos, já é difícil, imagina pra um garoto de dezoito anos ainda mais com a cultura, e mentalidade que nós temos. Pro europeu nem tanto, eles têm outra cultura. Os nossos jogadores vêm de classes mais baixas, é incomparável. Eu se tivesse um filho hoje que eu visse que daria jogador, eu já procuraria cercar de todos os cuidados, com psicólogo por exemplo. O garoto ontem tava vindo de ônibus pro treino, e hoje ganha uma casa pro dia, o impacto é enorme. Mesmo assim, eu era a favor da ida do Adriano e do Ronaldinho para a Copa. Aliás, também a ida dos dois garotos do Santos. O Ronaldinho porque era a hora dele arrebentar. Ele ia esquecer da vida, e ia se preparar pra arrebentar na Copa. O Adriano a simples presença dele impõe respeito a qualquer cara. É grande, muito forte. Digo isso como jogador, eu quando ia marcar um cara grande e forte, eu dizia: “Ih, hoje vai ser f...”.  Já em relação aos garotos, não era o Brasil, o mundo pedia. Eu ia lá pra fora fazer palestras e todo mundo já falava deles. A não ida de todos eles foi fundamental pro Brasil perder a Copa. Não tinha time. E a própria conduta de confronto do Dunga. Eu via que não ia dar certo. Não acredito que esta seleção tenha tido todo o preparo necessário. E pra mim, o Dunga nem podia ser o técnico da seleção. E o Ricardo Teixeira não pode ser o cara que manda na CBF. Ele como administrador, não tem ninguém igual. Agora futebol é diferente. Mais importante que escolher o técnico neste momento, era escolher o homem forte do futebol. E dar um descanso pra seleção. Se houvesse esse diretor, aquela ocasião vergonhosa da CBF receber um “Não” não teria acontecido. Aquilo não existe. Mas já havia essa preocupação de botar a seleção pra jogar, não sei por quê. Em 66, depois do fracasso, que eu participei, a seleção ficou quase um ano sem jogar. Jogar pra quê, todo mundo metendo o pau na seleção. E outra, o técnico tinha que morar na Europa, os jogadores moram lá, os amistosos são lá. Foi muita coisa errada, o Dunga batendo boca com jornalista, ele tinha que falar do time, quem tinha que estar lá nessa hora pra falar do resto, era o diretor.

OC – O que você, com a personalidade forte que sempre teve, mas que jamais foi chamado de marrento ou arrogante, acha desses acontecimentos com o Neymar? Você agora há pouco falou da mudança repentina que ocorre na vida de um jogador que surge meteoricamente, mas, além disso, o que pode provocar esse tipo de reação?

CAT: Na minha carreira de treinador eu já tive um caso desses. Em 1997, eu treinava o Botafogo e o craque do time era o Bentinho. Num jogo contra o Santos na Vila, quarenta do segundo tempo, a gente ganhando por três a um, eu tiro o Bentinho que foi o craque do jogo. Ele sai que nem o Pet saiu outro dia. Fiquei p... né. Quando eu chego ao vestiário, o Bentinho não estava lá. O Montenegro me disse que ele tava no ônibus. Eu falei pra chamarem ele. Quando ele volta, eu reúno todos os jogadores e digo: “Olha, nome por nome, eu tenho muito mais que você. O que você fez hoje, se fizer de novo, tá f...  e pode ir arrumar um time porque comigo você não joga nunca mais. E tem mais, segunda-feira, na hora do treino eu vou chamar a imprensa e você vai pedir desculpas.? Pô, treinador não pode ter medo de jogador. Eu fui capitão do Pelé, já xinguei muito ele, qualquer jogador que eu tiver que xingar eu xingo. Lá fora eles não fazem isso, respeitam. E também lá fora os treinadores não fazem esse teatro que fazem aqui à beira do campo. Não adianta nada, jogador não ouve, e mais, se durante toda a semana você não conseguiu passar o que você queria, não vai ser agora ali que vai passar. O pior é que se você não for, a torcida, todo mundo vai te criticar.

OC – Você á a favor da concentração?

CAT: Em 1983 no dia em que eu cheguei de Nova York para assumir o Flamengo eu acabei com a concentração. Eu disse para os casados chegarem ao meio dia de Domingo na concentração e os solteiros falei pra irem jantar na concentração e depois podiam ir pra casa. Domingo às onze se apresentariam. Resultado: Campeão Brasileiro. Tenho certeza que isso foi fundamental, eu ganhei o grupo com isso. Depois em 2001, quando eu tirei o Flamengo do rebaixamento, faltando três jogos, o timepô, não foi nada de técnico, tática. Ia mudar em um dia o que estava errado há seis meses? Nem treinei sábado! São com atitude assim que você muda um ambiente.

OC – Como treinador então, o que é mais importante, a parte tática, ou motivacional?

CAT: Acho que os dois. Uma coisa muito importante no futebol de hoje é a posse da bola. Trabalho muito isso. Enquanto você tem a bola, impede o adversário de criar problemas pra você. O melhor exemplo disso hoje é a seleção da Espanha. O treinamento não precisa ser longo, se for, chega uma hora que o jogador fica de saco cheio. O Saldanha dava treino de vinte minutos na seleção. Aprendi com o Telê, todo dia coletivo. É com coletivo que o time se entrosa.

OC – Qual treinador mais te marcou?

CAT: O que mais me marcou, mas que eu não tenho o alcance dele era o Tim. Ele era f... Mudava o comportamento de um time. Mal comparando, era um Lula, convence todo mundo. Fui campeão carioca com ele. Ele dizia: “Se nós fizermos isso, a gente ganha”. A gente ia lá, fazia e ganhava. Taticamente era genial.

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