sábado, 18 de setembro de 2010

Entrevista do Carvalho - Edição de 18 de Setembro de 2010 - Carlos Alberto Torres

 
Capitão da maior seleção da história. Campeão do mundo como jogador. Campeão brasileiro como treinador. Maior lateral direito de todos os tempos.
Esse é o "pequeno" currículo do convidado da Entrevista do Carvalho deste sábado.



"Romerito podia ter sido o substituto do Maradona!"



Opinião do Carvalho – Bellini, Mauro, Dunga, Cafú e você. Todos tiveram o mesmo prazer de levantar a taça de campeão de uma Copa do mundo, mas você que ficou conhecido eternamente como Capita. Por quê?

Carlos Alberto Torres: Acho que marcou tanto por causa da seleção que eu capitaneei. Naquele time haviam vários jogadores que tinham todas as condições de serem escolhidos capitão, mas eu já trouxe a braçadeira do Santos, que era o grande time do mundo. Ainda jovem, com 22 anos eu passei a ser o capitão do Santos. Nunca ninguém veio me dizer se foi isso, mas acredito que isso tenha sido uma vantagem para me escolherem. O Aymoré Moreira em 1968 me escolheu, o Saldanha em 1969 me manteve e o Zagallo em 70 também. Fiquei como capitão até o dia em que fui embora pro Cosmos. Não tinha problema em xingar o Pelé, por exemplo. Olha, 95% das pessoas não me chamam pelo nome, é Capitão ou Capita, no mundo inteiro.  E quando trabalho como treinador, eu digo que podem me chamar de Carlos Alberto, ou Capitão. Mas proíbo que me tratem como “professor”. O que eu tenho mais que eles é experiência. O respeito não vem com tratamentos como “Excelência”, “Senhor”. Não chamo o Eduardo (Paes) de prefeito, ou o Serginho (Sérgio Cabral) de governador, conheço ele e o pai há muito tempo.

OC – Carlos Alberto, é muito comum haver debates em que se perguntam se craques do passado, em especial grandes atacantes, teriam o mesmo sucesso hoje. Você, o maior lateral direito de todos os tempos, no que diz respeito à marcação, seria muito mais fácil hoje?

CAT: Sim, não existem mais pontas. Antes havia jogadores habilidosos, dribladores, velozes. Eu era um caso raro, atacava, mas tinha que me preocupar em voltar pra marcar. Hoje não, o cara vai mas volta tranqüilo, respirando porque um dos volantes ou um dos três zagueiros ta cobrindo ele. É a melhor posição pra se jogar hoje. Não tem quase ninguém por ali, você sai daquele bolo do meio, o cara com habilidade faz o nome. Um exemplo é o Leonardo Moura.

OC – Desde que você parou até hoje, com qual jogador você mais se identificou na sua posição?

CAT: (Seco) Leandro. Tive o prazer de trabalhar com ele como treinador em 83 no Flamengo. Mexia muito com ele. Eu dizia: “O que eu fazia tu não faz!”, brincando com ele. Aí quando ele fazia uma grande jogada, era a vez dele dizer que eu não fazia aquilo, (risos). Ele fez muita falta em 1986, era um jogador excepcional, até hoje não vi nenhum jogador com a habilidade dele. Maicon, Daniel Alves, são grandes laterais, mas sem a habilidade do Leandro. Qualquer posição que você o colocasse ele era bom.
OC – Com relação àquele Flamengo de 1983, você já sabia da saída do Zico durante o campeonato?

CAT: Fiquei sabendo na última semana, antes do (segundo) jogo contra o Santos. O presidente que me falou, o Dunshee (Antônio Carlos Dunshee de Abranches), “Pô Carlos Alberto, to com o Zico vendido”.  Só lembro que eu falei pra ele: “Então você tem que se preocupar em comprar dois! Porque o Zico arma e faz.” Lembro que na época eu sugeri os nomes de dois jogadores que estavam começando: Careca e Renato que chamavam de Pé Murcho. Cheguei a conversar com os dois, mas já estavam acertados com o São Paulo. Na hora de contratar, tem ser certeiro, não adianta contratar muitos. 

OC - No Fluminense em 1984, na campanha do título brasileiro você era o coordenador, como foi?

CAT: É em 1984 eu trabalhei no Fluminense como coordenador do futebol. No dia seguinte à eleição do Manoel Schwartz, ele me liga. Achei que fosse pra ser treinador, mas eles haviam acabado de ser campeões cariocas. Na minha cabeça não me passava fazer outra coisa que treinar. Ele me disse: “Carlos Alberto, eu quero que você seja o cara do futebol pra mim” Eu aceitei mas fiz algumas exigências. Falei pra ele que tinha que acabar com esse negócio de chamar o Fluminense de timinho, ganhando ou perdendo. Ele me perguntou como. E eu disse: “Vou trazer um puta jogador pra balançar o Fluminense!”. E ele me perguntou quem. E eu disse: “O senhor tem que me dar pelo menos um dia pra pensar né!” Bom, pensei em vários nomes, Sócrates, Júnior, mas não são os caras que eu quero. De repente me deu um estalo: Romerito! Ele estava no Cosmos, e eu tinha acabado de chegar de lá um ano antes. Eu sabia que as coisas estavam meio estremecidas por lá. Pedi ao presidente uma passagem e disse: “Vou à Nova York buscar um jogador do Cosmos pra cá!”. Liguei pro presidente do Cosmos que era meu amigo, Rafael de La Sierra, um cubano, executivo da Warner e disse que estava indo lá.
Cheguei lá e disse a ele, “Rafael, quero levar o RomeritoCorínthians e bota o Fluminense. ”Além dele, jogariam Barcelona, Cosmos e Udinese. Eu falei: ”Já imaginou o Fluminense vindo aqui com Romerito? Vai encher o estádio!” E assim foi. Três jogos nesse torneio, mais três amistosos pelos Estados Unidos e arrumamos o resto. E fomos campeões brasileiros e o Romerito foi o melhor jogador. Um tempo depois, ao final do campeonato brasileiro, fomos jogar o torneio de Nova York. O Barcelona tinha acabado de vender o Maradona ao Napoli e ofereceu uma puta grana pelo Romerito, mas o Schwartz não quis vender. Eu disse pra ele vender, que eu arrumava outro, eram uns cinco milhões, muito dinheiro mesmo.

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